Amanhecer parte 2

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sexta-feira, 2 de abril de 2010

RIO – Ela faz parte do clube das primeiras-damas do rock desde que mulheres começaram a tocar hard rock. Agora Joan Jett está vendo sua fase pioneira com a banda só de mulheres The Runaways ser exibida nos cinemas. “The Runaways” , que estreou no Festival de Cinema Sundance e chega aos cinemas dos EUA na sexta-feira, tem Kristen Stewart no papel da guitarrista Jett e Dakota Fanning como a vocalista Cherie Currie.

Cherie, Joan e três outras mulheres formaram a banda dos anos 1970 que fez sucesso com “Cherry bomb” mas se desfez em pouco tempo, depois que o abuso de drogas e a inflação dos egos ganharam mais espaço que a música. Mais tarde Joan Jett formou a banda The Blackhearts e liderou as paradas com canções como “I Love Rock-n-Roll”, mas The Runaways ainda ocupa um lugar especial em seu coração. A guitarrista falou com a Reuters recentemente sobre sua música e sobre o filme, que também mostra a relação amorosa que surgiu entre ela e Currie.

Em “The Runaways” você foi produtora executiva, o que pode significar muitas coisas. O que você fez de fato no filme?

Joan Jett: Fui principalmente um apoio para Kristen. Eu quis estar à disposição dela, porque ela me representa no filme, então foi importante lhe dar todas as ferramentas para isso. Falamos sobre tudo, desde tocar guitarra até minha postura e meu sotaque. Ela foi muito autêntica e se esforçou muito para acertar em tudo.

E ela acertou? Conseguiu representar você?

JJ: Foi surreal ver uma pequena eu correndo de um lado a outro. Foi bizarro. Acho que ela acertou tanto quanto seria possível. Não sei o que mais ela poderia ter feito.

Você já tinha pensado em mostrar o início de sua carreira em um filme?

JJ: Pessoalmente, eu nunca tinha pensado nisso. Esse início era tão importante para mim que a ideia de fazer um filme sobre isso era um pouco assustadora, porque seria quase como perder controle. Mas, depois de dizer ’sim’ e me envolver de fato no filme, senti confiança em que daria tudo certo.

Por que assustadora?

JJ: Você tem medo que o filme possa errar muito, e isso assusta porque essa história é tão importante para mim. Não é apenas a história de uma banda só de garotas. É sobre quebrar barreiras, é sobre fazer o que você queria fazer. É sobre não exercer um certo papel na vida simplesmente porque é isso que se espera de você.

Os criadores do filme ou o estúdio chegaram a discutir a possibilidade de não incluir no filme o caso entre você e Cherie?

JJ: Não.

Você disse que teve uma sensação “surreal” ao ver Kristen representando você e Dakota representando Cherie. Por que?

JJ: Bem, foi um grande alívio e foi algo muito satisfatório. Estou tentando encontrar palavras para explicar como foi vê-las nos captar tão bem. As duas incorporaram exatamente quem nós duas queríamos ser quando éramos garotas, ou seja, nossas presenças no palco. Kristen e Dakota são jovens e a banda não foi do tempo delas, mas elas entenderam. Elas entenderam o que as Runaways fizeram, e isso é importante para elas.

O que o filme transmite ao público mais jovem?

JJ: Aquilo do qual falamos antes: ter as pessoas lhe dizendo que você não pode fazer tal coisa, superar adversidades, sentir-se desajustada, pária… Seguir seus sonhos e, se você não chega ao lugar onde achou que poderia chegar, saber que pelo menos você tentou e que pode ter algumas histórias boas para contar. Você não terá que olhar para trás para sua vida e dizer ’sabe de uma coisa? Eu deveria ter tentado.’”

Você tem mais de 50 anos e continua a fazer rock. Hoje tocar no palco é diferente para você do que era 10 ou 20 anos atrás?

JJ: Sim, eu procuro não pensar tanto. Procuro viver o momento. Procuro não me incomodar com as coisas pequenas – tipo monitores que não são perfeitos e coisas que desviam sua atenção das canções. Acho que estou mais calma.

As letras que você escreve mudaram?

JJ: Além de escrever sobre me apaixonar e desapaixonar, sobre querer fazer certas coisas, sair, ir a baladas – enfim, todas as coisas das quais eu escrevia antes -, quero escrever sobre coisas mais profundas. A gente quer aprender sobre política e espiritualidade. Mas como fazer isso de uma maneira que não seja pretenciosa, pomposa ou besta, sabe, que seja real… Meu jeito de trabalhar não mudou, mas eu quero incorporar mais coisas na temática.

O rock sempre foi visto como sendo rebelde, e The Runaways eram rebeldes. Você ainda é uma rebelde?

JJ: Espero que sim. Acho difícil me avaliar. Outras pessoas me chamam de rebelde, mas, para mim, estou simplesmente vivendo minha vida e fazendo o que quero fazer. Às vezes as pessoas chamam isso de rebeldia, especialmente no caso de uma mulher. Um homem que sabe o que quer é visto como líder. Se uma mulher sabe o que quer, ela é uma vadia.

Eu não diria isso.

JJ: Mas você sabe o que quero dizer. Isso é totalmente real. Eu topo com isso a toda hora, vejo outras mulheres topando com isso. É real.

Fonte: O Globo

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